Ícone do menu
Inicial Vidas que inspiram comunhão Irmã Gabriela Canavesio
Vidas que inspiram comunhão

Irmã Gabriela Canavesio

Imagem destaque da notícia

NOME:  Rita Canavesio                                      

IDADE: 79 anos

NOME RELIGIOSO: Irmã Gabriela Canavesio

DATA DE NASCIMENTO: 07/08/1945                                   

Nasci em Volvera – Torino – Itália, em uma família muito religiosa. Desde criança participei do catecismo na Paróquia e, com a ajuda de minha mãe e da professora do Fundamental I, fui descobrindo a beleza de ajudar a quem mais precisa. Fui estudar o Fundamental II no Instituto Maria Imaculada, em Pinerolo, Colégio coordenado pelas Irmãs de São José e fui conhecendo mais de perto a Vida religiosa delas.

Depois de um retiro espiritual, já frequentando o primeiro ano do Ensino Médio, senti com clareza que a minha vida só teria sentido se fosse doada toda ao Senhor Jesus. Fui aprofundando esta intuição, me confrontando com uma Religiosa, que comigo frequentava o mesmo curso. Aos 16 anos, no dia 05 de novembro de 1961, iniciei o Postulantado. Segui normalmente as etapas da formação, professando os primeiros votos no dia 28 de agosto de 1964.

Durante o juniorato, me formei em Pedagogia e depois da profissão definitiva dos votos, em 29 de agosto de 1969, a obediência me enviou a lecionar no mesmo Instituto, onde tinha frequentado o Fundamental II e o Médio.

Gostava muito de ensinar! Acompanhava os estágios das formandas do curso de Magistério. Íamos juntas descobrindo experiências pedagógicas inovadoras. Mas meu coração continuava inquieto, procurando respostas novas aos apelos da Igreja do pós Concilio Vaticano II e às desafiadoras provocações que vinham das palavras de alguns bispos brasileiros, como Dom Helder Câmara, Dom Paulo Evaristo Arns, Dom José Maria Pires... Os gritos de ajuda, provindos das situações de sofrimento e de injusta desigualdade, ressoavam fortes demais no meu coração, para poder simplesmente continuar na minha rotina de religiosa professora.

Os questionamentos e os confrontos com as Irmãs responsáveis, para buscar juntas a Vontade de Deus, duraram cinco anos. Mas, enfim, a resposta veio: podia partir missionária para o Brasil, sendo uma integrante da dupla que abriria a segunda comunidade na Bahia.

De fato, em 5 de março de 1975, junto com Irmã Dolores Ferrero, desembarquei no Rio de Janeiro, depois de 11 dias de viagem de navio. No dia 24 de maio 1975, abrimos a comunidade de Cicero Dantas, com a ajuda de Irmã Paula Sacchetto, que já se encontrava na Bahia desde 1972, quando foi iniciada a nossa presença no Brasil.

Começava aí uma nova etapa da minha vida. O processo de inserção não foi fácil. Exigiu um longo tempo de aprendizagem, um deixar de lado as minhas certezas, um esvaziar-me, um abrir-me a novos critérios, a novos esquemas mentais. Foi necessário descobrir que a solução dos problemas existe, mas não é logo, definitiva, imediata. Ela é progressiva e se torna possível somente respeitando o grau de consciência do grupo envolvido no problema e na busca para resolvê-lo.

Uma preciosa luz para a nossa caminhada veio da Palavra de Deus, lida e rezada em grupos, nas humildes casas dos pobres e dos trabalhadores rurais. Ainda me emociono quando lembro de quanta atenção e fé os nossos amigos e amigas, depois de um dia de duro trabalho, acompanhavam a proclamação de um trecho da Sagrada Escritura, muitas vezes lida à luz de uma fraca lanterna. Juntos, íamos descobrindo um Deus, Pai Amoroso, que cuida e se preocupa com todos os seus filhos. Um Deus próximo, que não concorda com as injustiças e com a ganância dos que, egoisticamente, se apropriam dos bens que Ele criou para que todos, sem distinção, os pudessem desfrutar e viver felizes.

Assim, devagar, foram nascendo os primeiros grupos de alfabetização de adolescentes e jovens, que rapidamente se multiplicaram na cidade e na zona rural e em seguida foram substituídos pelas escolinhas para crianças, núcleos de reforço escolar para crianças e adolescentes do Fundamental I e Escola Família Agrícola para adolescentes e jovens, filhos de agricultores, assentados, acampados, indígenas e quilombolas.

As Palavras de Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida e vida plena” (Jo 10.10), como também a ordem que deu aos seus apóstolos: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16) enchiam os nossos corações de alegria e de entusiasmo e nos impulsionavam a buscar, comunitariamente, pequenas soluções para os muitos e graves problemas, que tornavam a vida do povo humilde tão difícil e sofrida.

Os cantos ao Espírito Santo, Espírito de Luz, Espírito Transformador, Consolador, Pacificador, Espírito dos profetas, nos davam novo ânimo e nos impulsionavam a continuar sonhando e lutando por uma terra sem males, onde a mesa fosse farta, a natureza protegida, a juventude com mais oportunidades, as crianças sorrindo, onde todos pudessem ter uma vida digna.

Com muita alegria, rezávamos os salmos, especialmente o salmo 121 (120), que confirmava nossa total confiança em Deus: ‘guarda de Israel, que não cochila nem um instante, para afastar todos os males e proteger o povo dele, na partida e na chegada”; como também o salmo 30 (29), com a surpreendente afirmação: “mudaste o meu pranto em dança, a minha veste de saco em roupa de festa” (v.12). Porque, cada vitória, cada passo novo, mesmo pequeno, era mesmo mudar o pranto em dança e trocar a veste de saco em roupa de festa.

Aos poucos foi possível organizar movimentos populares mais estruturados, como Associações, Cooperativas e Sindicatos, que ajudaram na defesa e reinvindicação dos direitos negados e foram os suportes para lutas maiores: a conquista da terra, a luta pela assistência da saúde e a mudança da lei da Previdência Social Rural, a luta contra os efeitos da seca com a construção de reservatórios de água, pequenos açudes e milhares de cisternas familiares e de produção.

A Palavra de Deus foi e continua sendo a grande Fonte de luz, coragem e sabedoria, que alimenta e renova no meu coração o gosto de colaborar, para que passo a passo, se torne realidade o encantador Sonho de Deus de um mundo novo, onde todos sejamos capazes de vivermos como filhos/as felizes e irmãos/ãs entre nós.

Estou, agora, completando  61 anos de Consagração, com o coração cheio de gratidão a Deus, porque me acompanhou, me protegeu, me iluminou, me sustentou, colocando muitos anjos nas diferentes etapas do nosso caminhar comunitário: anjos – companheiros/as que acreditaram que é possível dar pequenos passos para mudar a realidade injusta; anjos – Irmãs que abraçaram por inteiro viver o Sonho de Deus e de padre Médaille, na nossa Família religiosa; anjo-amigos, que, partilhando conosco valores e ideais, nos ofereceram uma atenção carinhosa e recursos econômicos, contribuindo de forma determinante para os avanços nas conquistas dos direitos negados; anjos-bispos e padres que nos fortaleceram na caminhada e sustentaram nossas prioridades pastorais, em meio a contradições e obstáculos. 

Não posso esquecer os anjos que já estão declarados santos ou veneráveis, como Nossa Senhora, Mãe de todos os sofredores. São José, nosso humilde e poderoso patrono, sempre silenciosamente presente nos momentos difíceis. Madre Maria Teodora Voiron, que acompanhou o meu percurso na missão e o caminho da Congregação de Pinerolo, até nos unirmos novamente a Chambéry.

Também, a fé simples e robusta dos pobres me confirmou na beleza de partilhar vida, e missão, sonhos e esperanças, fazendo-me descobrir sempre mais a força transformadora do Evangelho. Como lembro agradecida dos momentos orantes com o povo das comunidades eclesiais de base, ricos de fervor e unção, buscando força e luz para continuar o projeto.

Nesta longa jornada, foram muitas as alegrias que fizeram vibrar o meu coração. Como primeira, gosto de lembrar a presença constante da Providência de Deus que, como Mãe amorosa, cuidou de mim, de nós, da nossa caminhada, não nos deixando faltar nada. Muitas vezes nos surpreendeu com sua criatividade, facilitando soluções que pareciam impossíveis, nos protegendo, mesmo quando a minha e nossa inexperiência nos colocava em perigo.

Alegrias grandes e pequenas se multiplicaram no meu cotidiano: como foi bom ver crianças sorrirem, por estar recebendo um presente inesperado. E, quanta vezes, oferecendo uma ajuda, uma solução, me emocionei ao enxugar as lágrimas de uma mãe desesperada, por causa de um filho doente.

Alegrei-me muito, não só com as vitórias que o povo trabalhador ia alcançando com lutas e reivindicações até ousadas, mas, também, com as pessoas que iam descobrindo o próprio valor e dignidade, que, superando medos e individualismos, colocavam à disposição, seus talentos e tempo a serviço do Bem dos mais pobres.

Durante estes anos, a amizade simples e sincera teve grande espaço e valor. Posso dizer que ela foi marcante nas relações fraternas com os colaboradores, que nos ajudam a servir e, com o povo, ao qual servimos.  É porque somos amigas/os que festejamos junto, sofremos junto e nos reconciliamos, quando ferimos ou somos feridas.

Tudo isso me ajudou a vivenciar uma unidade interior entre profissão e missão, porque em todas as diferentes atividades que desenvolvi, sempre foi determinante ser anunciadora da Palavra libertadora do Cristo Jesus, colaborando com a realização do seu maravilhoso Projeto de Amor. É esta uma das bênçãos divinas mais preciosas, entre infindas outras, que recebi durante a minha vida religiosa.

                  A minha idade vai avançando. Em agosto completarei, se Deus quiser, 80 anos de idade. Só peço a Deus de ocupar todo o tempo, que Ele me conceder ainda, agradecendo os dons da vida e da vocação. Estou bem consciente de que as minhas energias vão diminuindo. Mesmo assim, é meu desejo gastá-las todas no anúncio da Palavra e na promoção da dignidade dos mais vulneráveis.

Quero dizer às Irmãs mais jovens: Irmãzinhas queridas, sonhem alto, se entreguem à missão com todas as suas energias. A Igreja e a humanidade precisam de jovens que acreditam na beleza da vida e que, tendo experimentado a alegria de pertencer a Cristo, testemunhem com força o seu Amor: ‘vale a pena se arriscar nesta aventura’.

 Cícero Dantas, 07/05/2025

                                                                                                                                                                             Irmã Gabriela Canavesio

Galeria de imagens

Envie o seu comentário

*Campos marcados com barra são de preenchimento obrigatório.