Província da Congregação das Irmãs de São José de Chambéry no Brasil
- NÚCLEO SÃO JOSÉ -
Nome Civil: Marcela Mussatto
Nome Religioso: Ir. Dilma Judith
*Nascimento: 15/12/1935
+ Falecimento: 28/02/2025
“Desde a manhã,preparo uma oferenda e fico Senhor, à espera do teu sinal...”
Na família de José Mussatto e Ofemea Bortolotto Mussato, em Vila Segredo, então município de Vacaria, hoje pertencente à Ipê/RS, nasceu Marcela no dia 15 de dezembro de 1935. Família de 14 irmãos. Quando criança, Marcela pensava fazer o que os pais pediam, que era obedecer, brincar com bonecas, trabalhar e ajudar os outros, sempre perpassado com muita oração. Era de uma família simples, que cultivava a terra, gostava de tocar instrumentos musicais e cantar. À noite rezavam o terço e todos participavam da vida da comunidade religiosa e social. A mãe foi sua catequista, seu pai doou o terreno para a construção da Igreja e salão na comunidade São Miguel, na Vila Segredo. Grande era a vivência da fé, respeito aos sacerdotes, aos mais velhos, o não falar mal dos outros, a vivência dos 10 mandamentos, rezavam em casa todos os dias e aos domingos iam à missa.
Na adolescência, participava na família, na comunidade, aprendeu a tocar instrumentos musicais, bordar. Gostava de se arrumar e se vestir bem. A mãe contava aos filhos a vida dos santos e Marcela queria imitá-los. Teve muita liberdade na família e isto ajudou na sua realização pessoal. Marcela sentiu o apelo à VR, aos 15 anos de uma forma marcante. Num determinado momento, olhando as formigas andando, um grande calor ardeu em seu peito. Levantou-se e olhando para o horizonte sentiu a imensidão de Deus e disse: “Quero ser santa!” Essa experiência nunca mais se apagou de seu coração. Falou com a mãe e o pai. Ambos disseram que não tinham recursos para pagar o colégio. Sempre decidida, Marcela pegou a mula e foi até Vila Segredo (14 km de distância), falar com a Madre Maria Eugênia Benetti, que a acolheu com carinho e fez um bom desconto e ela voltou para casa feliz, pois isto facilitou sua ida para estudar no convento. Para ela, estudar, era ser Irmã. O pai recolheu, com muito sacrifício, o valor necessário e Marcela partiu. Doeu seu coração sair de casa, mas o chamado era maior e venceu. Pensava no sair, no deixar tudo como faziam os santos, seguir Jesus, este era seu sonho. O discernimento passava pela vontade dos pais, do padre e das madres. Esteve dois anos em Vila Segredo, após foi encaminhada para Flores da Cunha/RS, onde também ficou dois anos. Mais que uma vez deu à Marcela vontade de voltar para casa. Nas férias, em casa, sentia vontade imensa de voltar novamente para a casa religiosa.
Foi admitida ao postulado no Convento São José de Garibaldi/RS, no dia 18 de fevereiro de 1953 e lá também iniciou seu noviciado no dia 15 de dezembro do mesmo ano. No dia 18 de dezembro de 1955 faz sua Primeira Profissão Religiosa e sentindo que este era o que Deus queria dela, entrega-se definitivamente como Irmã de São José no dia 20 de janeiro de 1961, fazendo sua Profissão definitiva. A formação dos pais, da Igreja, foi a base de sua vocação. Desde pequena, seu objetivo era ser santa, sempre
se esforçou para ser justa, determinada, sempre gostou da arte, buscou o quanto possível a vontade de Deus. Os limites sempre apareceram e aparecem, mas aos poucos foram sendo superados.
No início sofreu muito, pois era muito tímida. Demorou para entender a fundo o carisma, a comunhão universal. As principais características de sua personalidade eram: clareza, determinação, gosto pelas artes, visão do todo. Suas principais habilidades artísticas: pintura, harmonia nos ambientes, tornar o lixo um luxo, o belo sempre a fascinou. O dia que entendeu que a beleza é Deus, ficou emocionada.
O apelo de Deus foi sempre mais forte. Como Marcela sempre foi muito comunicativa e extrovertida, um dos seus sofrimentos, no colégio, era o silêncio, a falta de cantar, brincar, rir, visitar sua família e ser alegre. Gostava muito de pintar e isto a distraia. Como, na época, era falado muito em fazer sacrifícios, se esforçava para não reclamar e lembrava o que sua mãe dizia: “Os santos fazem grandes sacrifícios.”
Quando jovem, ao falar com as Irmãs, parecia, para ela estar no paraíso. Só conheceu as Irmãs de São José e o que mais admirava na vida das Irmãs era a oração, catequese, arrumação na Igreja, a piedade e a acolhida. Pouco a pouco foi entendendo o que era ser Irmã e isso foi aprendendo até o final da vida. É o grande mistério do amor de Deus, do chamado e o seguimento a Jesus Cristo, como discípula e missionária.
Marcela se formou em várias áreas, a Província sempre investiu nisto. Disse não ter tido muita liberdade de escolha, pois no início se assumia o que era prioritário para a missão da Província. Hoje, os tempos mudaram usa-se o discernimento pessoal e comunitário e isto enriqueceu sua vida. O tempo ajudou-a a ser ela mesma. Como professora, trabalhou por muitos anos em Cacique Doble, Marcelino Ramos, Vacaria e Lagoa Vermelha no RS, esteve estudando por um ano em Roma, fez faculdade de Direito, vários outros cursos na área de pastoral, espiritualidade, catequese e teologia. Após a aposentadoria, dedicou-se, com carinho à pastoral popular, ajudou e foi ajudada. Diz ter entendido melhor a comunhão universal, se sentindo sempre mais em comunhão com o Corpo Congregacional, a Igreja e o povo de Deus. Marcou presença e ação junto ao povo da Bahia por vários anos. Prestou significativos serviços à então Província de Lagoa Vermelha como Superiora Provincial por vários mandatos, bem como no serviço de conselheira provincial. Sempre foi uma memória viva dos fatos e acontecimentos que se referiam à Província e Congregação. Por muitos anos esteve na coordenação e dinamização do grupo dos Leigos e Leigas do Pequeno Projeto.
O que alimentou sua fidelidade foi a vivência do carisma, a oração, o estudo e reflexão; o estar com Deus e as pessoas. Via a vida comunitária, como lugar de purificação e crescimento. Dizia: “O essencial da Vida Religiosa é o seguimento a Jesus Cristo, sendo um sinal sagrado de Deus; entender o amor e colocá-lo a serviço; seguir os passos do Mestre, do Fundador e das primeiras Irmãs. Nada como a idade, a história, o tempo. Quantas coisas amadurecem! Quantas verdades aparecem! A idade me deixou cada vez mais realizada por entender melhor a vida humana, religiosa e a vida em Deus, no seguimento a Cristo, Maria e São José”. São Miguel Arcanjo foi sempre seu fiel companheiro. Com ele lembrava sua infância, família e comunidade local onde viveu. Os textos Bíblicos que gostava demais: “Pai, aqui estou, para fazer tua vontade”. “Jesus despojou-se de tudo, aniquilando-se livremente”. “Tudo para a maior Glória do Pai”. Sempre teve forças para entender o sentido universal da comunhão, com todo ser criado, conseguir o autodomínio, não sendo guiada pelos impulsos e entender melhor a liberdade dos outros. O que a marcou como missionária e Irmã de S. José foi o estar em missão e entender que somos um povo a caminho na conquista do Reino de Deus. Viver livre e despojada de tudo. Estar junto aos mais necessitados e entender a pastoral como uma forma de libertação e seguimento de Jesus Cristo, ajudando os outros. O que alimentava sua fidelidade na caminhada? Viver e agir em comunhão; ser livre e serena com os outros; ter os Mistérios da Trindade, Encarnação e Eucaristia, como fundamentos; estar em comunhão com o Corpo Congregacional. Como via a Vida Comunitária? Disse: “Tenho a graça de viver numa comunidade que prioriza a vivência juntas para sermos sinal, sal e luz onde vivemos. Há muita liberdade. A vida comunitária é escola de formação. Um chão sagrado. Sempre nos retomamos para a missão”.
Oração: Senhor sinto-me sumamente feliz e agradecida por estar em vossa presença, purifica-me. Ansiosa, procuro vossa face, ilumina-me, para que esteja sempre mais em comunhão convosco e com todo ser criado. Confio em Vós. Protegei a Igreja a Congregação, a Província, nossas comunidades, minha família, a Nação. Maria, minha mãe, São José, homem justo, ajuda-nos a sermos justas com todos. Amém.
Desejava que o futuro da VR e a da Congregação seja um testemunho do amor e da misericórdia, que dê prioridade aos pobres. Viva a esperança de que outro mundo é possível. Viva o carisma de unidade. Que o Papa Francisco impulsione a Igreja para que seja e que viva o Projeto de Jesus Cristo. Que se realize
o projeto integrado na Congregação, com simplicidade e comunhão. Desejava ver muitos leigos e leigas vivendo a espiritualidade da Congregação.
Senhor, o teu zelo me consome. Assim, Ir. Marcela foi consumindo sua vida a serviço do povo de Deus e na Congregação que tanto prezou e amou. Suas forças foram enfraquecendo e foram aparecendo alguns problemas de saúde, necessitando de maiores cuidados passa a integrar a Comunidade São José do Patrocínio em Vacaria/RS em junho de 2024, onde sempre foi acompanhada e cuidada com muito carinho e atenção. Como uma vela que se consome, sua vida foi se consumindo no silêncio e na entrega serena Àquele que a conduziu, a encantou, a consagrou e enviou, e ao Qual foi preparando sua entrega desde o seu nascimento, no dia 28 de fevereiro de 2025, contando com 89 anos de vida e 69 anos de Vida Religiosa como Irmã de São José.
Ir. Marcela, gratidão pela oportunidade de convivermos com você e por testemunharmos o seu comprometimento com a vida e a missão como Irmã de São José, gratidão pelo seu compromisso com a preservação da vida de todos os seres humanos e pelo cuidado com a casa comum. Deus a receba em sua glória e receba uma grande e bela coroa por tantas pequenas/grandes ações em prol da vida. Descanse na paz de Deus!
Ir. Marcela foi velada na Capela Funerária Sagrada Família, onde foram feitas orações e celebração de despedida, após o corpo foi enterrado no jazigo da Congregação das Irmãs de São José no Cemitério Santa Clara em Vacaria/RS.
Vacaria/RS, 28 de fevereiro de 2025.