Ícone do menu
Inicial Memorial da saudade Irmã Rosa Guedes
Imagem da irmã

Irmã Rosa Guedes

Estrela de nascimento 26/12/1917
Cruz de falecimento 04/03/2023

Província da Congregação das Irmãs de São José de Chambéry no Brasil

Núcleo SSma. Trindade     

 Irmã Rosa Guedes

* 26/12/1917   + 04/03/2023   

             "Tudo posso naquele que me conforta” (Fl 4,13).

Rosa nasceu no dia 26 de dezembro de 1917, em Santana do Parnaíba – SP, de onde a família se mudou para um sítio em Pirituba-SP, e depois para mais perto do centro da cidade de São Paulo. Seus pais foram o Sr. Lino de Oliveira Guedes e D.  Aida da Silveira Guedes. Teve duas irmãs -  Maria de Lourdes e Maria da Luz, e um irmão, Lino. Aos dez anos, por influência da avó, muito religiosa, Rosa fez a primeira comunhão, um dia inesquecível para ela.  O pai seguia a avó e levava os filhos à missa todos os domingos.

Rosa fez o primário num Grupo Escolar em SP. Tendo falecido a mãe, Rosa com 11 anos e uma irmã, foram levadas pelo pai ao Seminário da Glória, criado como colégio do governo para órfãs de combatentes da Guerra do Paraguai, e posteriormente entregue à coordenação das Irmãs de São José. Aos 14 anos, Rosa deixou o Seminário e foi cuidar da casa.

Com 18 anos, as Irmãs convidaram Rosa para fazer um retiro no Seminário da Glória. Nesse tempo de oração começou a sentir que Deus a chamava à Vida Religiosa. Logo no dia seguinte, numa missa no Convento da Luz, fez em particular, voto de consagração definitiva a Deus.  Foi a convivência com as Irmãs do Seminário, cuja coerência de vida Rosa admirava, que nela plantaram a semente da vocação à Vida Religiosa.  Acompanhada por Madre Aparecida, do Seminário, até os 20 anos, Rosa entrou no Postulado a 04 de junho de 1938. Recebeu o hábito no dia 25 de janeiro de 1939, fez os primeiros votos a 29 de janeiro de 1941 e a profissão perpétua a 26 de janeiro de 1945.

Sendo que grande parte de seus 105 anos, Irmã Rosa foi excelente Enfermeira, vale lembrar o precário panorama da Saúde nas décadas de 1930... No Brasil só existiam 2 Escolas de Enfermagem, uma no Rio e outra em Minas. No país inteiro, os doentes eram cuidados por “atendentes práticas/os de enfermagem”. Além disso, pela fama de promiscuidade, os pais não permitiam às filhas seguir a carreira. Os hospitais, ali, precisando dessa “mão-de-obra”... Pior: nem havia   docentes para ensinar as práticas da saúde. Neste cenário de carência, em 1939, foi criada a “Escola de Enfermeiras do Hospital São Paulo”, cujo 1° ano só teve uma aluna nas aulas.  Aos poucos, com ação dos médicos, apoio de Bispos e Provinciais de Congregações, a Escola se firmou. Nos primórdios, em 1944, Irmã Rosa Guedes mais 3 Irmãs de S. José, se formaram como Enfermeiras.  A princípio, Irmã Rosa não gostava de hospital, mas aceitou fazer o curso e formando-se como Enfermeira, acabou encantada com a profissão tão afim ao carisma da Irmã de São José. Irmã Rosa participou ativamente da saga que foi promover a Formação de pessoas habilitadas em Enfermagem para o cuidado de doentes. 

Perspicaz, a Madre francesa, Maria Domineuc (Franciscanas Missionárias de Maria) viu que ao ritmo das Enfermeiras titulares demoraria muito até haver pessoas minimamente habilitadas no trato com os doentes e sugeriu criar uma Escola de Enfermagem de Padrão Médio, na linguagem da época. A Escola foi aberta à revelia da Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn). Coube a duas Irmãs de S. José, Rosa Guedes e M. Justina Abs tirar a decisão do papel e implantar a primeira unidade da hoje tão conhecida e difundida como Escola de Auxiliares de Enfermagem. Garantida a Santa Casa para estágio, começou o curso a 19 de março de 1945, festa de São José. Início desafiante, só duas Irmãs enfermeiras se alternando para aulas e supervisão de estágios na enfermaria, de madrugada. À noite, em pequeno espaço, 2 bancos juntados e um colchão, servia de cama para intervalos de descanso... Entre aceitação dos médicos, lenta a princípio entusiasta depois, e a oposição ferrenha da ABEn, em outubro de 1948 a Escola foi fechada.  Mas a premente necessidade e pessoas da Santa Casa influentes no governo, em pouco tempo conseguiram aprovação do Ministério da Educação para o Curso e Registro Oficial dos Certificados. A Escola de Auxiliares de Enfermagem, foi oficializada e reaberta em 1950. A ABEn, conseguiu impor às formandas serem chamadas de “Auxiliares de Enfermagem” e não o proposto que era “Enfermeiras Auxiliares”. Esta foi a origem, em “dores de parto”, das Escolas de Auxiliares de Enfermagem, hoje tão popularizadas.

Irmã Rosa, viveu 40 anos no incansável serviço à Saúde, na Santa Casa de Itu, de S. Paulo, Campinas e no Hospital de Taubaté. Em 1955, transferida, para a Santa Casa de São Paulo, Irmã Rosa preocupou-se em buscar um meio de transportar e servir os alimentos, aos pacientes, mantendo-os aquecidos. Esboçou possíveis desenhos até chegar a um carrinho térmico. Por dentro, o carrinho teria lã de vidro para manter calor. Seu projeto era muito parecido com os que são utilizados nos dias atuais. Uma metalúrgica aceitou fabricar a peça com a condição de fabricar similares para a venda comercial e Irmã Rosa abrir mão de patentear sua inovação.  Até hoje seu invento é sinônimo de qualidade no atendimento e segurança do paciente. Em 1970, fez 3 meses de estágio em Centro Cirúrgico nos EUA. Em 1975, Irmã Rosa assumiu a supervisão do Centro Cirúrgico da Santa Casa.

Em 1980, enfermeira aposentada, Irmã Rosa partiu para nova fronteira de vida e missão.  O primeiro “êxodo” foi para a Zona Leste de São Paulo, nas comunidades de periferia, vivendo no meio dos pobres, sentindo suas necessidades, lutando com eles pela melhoria no atendimento à saúde, organizando o povo e juntando–se às caravanas para exigir melhorias, apresentar reivindicações e cobrar o cumprimento de promessas.

Depois, foi Jussara, interior de Goiás, e a periferia de Goiânia que contaram com a presença querida e dinâmica de Irmã Rosa, de 1987 a 1999. No seu tempo de Jussara, a I. Rosa insistiu em ter um meio de locomoção a seu alcance. Um irmão dela chegou a presenteá-la com uma Mobilete. Porém, na sua idade, sem andar de bicicleta, como se equilibrar numa Mobilete? Desistir era palavra que não existia no seu dicionário. Insistente, conseguiu uma pequena Moto Triciclo, inclusive com lugar para 2 crianças. Lá se ia Irmã Rosa com sua engenhoca percorrendo seus caminhos missionários...

Foi a vivência com o povo sofrido da periferia de São Paulo e de Goiás que mais marcaram sua vida missionária de Irmã de São José.  O Carisma e a Espiritualidade das Irmãs de São José bem como a Leitura Orante da Bíblia foram sua maior inspiração. Aprendeu a aprofundar a Palavra de Deus no CEBI-GO (Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos) e no “Projeto Tua Palavra é Vida” da CRB. Irmã Rosa colaborou muito com vários grupos populares bem como de religiosas/os a se apropriarem desta Palavra. Vivendo sempre contente com o que fazia, nunca teve grandes dificuldades. A Vida Religiosa foi seu caminho para viver plenamente o apelo de Deus, concretizado no Amor inteiro a Jesus Cristo e ao “querido próximo”.

Conhecer a realidade era uma de suas paixões. Rosa foi fiel leitora da revista Cadernos do Terceiro Mundo, até 2006 quando fechou. Países do Terceiro Mundo eram o hoje chamado Sul Global. Além disso, Rosa ainda fazia tempo para suas folgas: Ouvir música clássica e ver balé eram passatempos favoritos.

Perto de seu Centenário foi, transferida para a CRSJ onde Irmã Rosa passou seus últimos anos. Em 2017, celebrou feliz sua longa e abençoada jornada de 100 anos pelos caminhos de Deus e do mundo que ajudou a ficar mais bonito com seu belo testemunho de amor a Deus e ao povo e Deus. 

No dia 04 de março, Irmã Rosa partiu para o céu, aguardada pelo bom Deus e a corte celeste e por tantas pessoas amigas que a precederam!

Querida Rosa, feliz VIDA em PLENITUDE!