Província da Congregação das Irmãs de São José de Chambéry no Brasil
Núcleo SSma. Trindade
Irmã Egídia Vitti
*17\03\1922
+21\11\2024
“Deixem vir a mim as crianças, não as impeçam; pois o Reino de Deus pertence aos que são semelhantes a elas” (Mc 10,14).
A menina Clara nasceu no Bairro Rural Santana, que juntamente com Santa Olimpia formam a Colônia Tirolesa, de Piracicaba, fundada em fins do século 19 (1892-1893) por imigrantes do Tirol Italiano, gente laboriosa, simples e ciosa de suas artes e tradições. Seus pais foram o Sr. Francisco Vitti e a mãe, D. Luiza Vitti, que formaram uma bela família com 5 filhos, 3 homens e 2 mulheres, sendo Clara a quarta. Na contramão, a maioria das famílias, em Santana e Santa Olímpia, tinha muitos filhos.
Para as brincadeiras infantis, Clara teve uma infância no meio de muitas crianças, cheias de buliçosa alegria. Cresceu bebendo a cultura tirolesa mantida por vários grupos culturais – teatro, coral, etc. - que preservam as tradições do passado. Até a localização da Igreja, construída no meio do casario simples dos moradores e cercada por uma praça, sugere o lugar da religião, sempre no centro.
Aos 7 anos, Clara foi para a escola e cursou o Ensino Primário, que na época era até o quarto ano, obtendo o certificado em 1930. Os pais, trabalhadores e muito religiosos, participavam da comunidade e da vizinhança. Educar bem os filhos era prioritário. Cuidaram que Clara frequentasse a Catequese para a primeira Eucaristia.
Aos 20 anos, Clara conheceu as Irmãs Franciscanas e sentiu o desejo de ser religiosa, filha de São Francisco. Aconteceu, porém, que Clara precisou fazer uma consulta e tratamento da vista na Santa Casa de São Paulo. Foi onde encontrou a prima Maria Zoê, Irmã de São José e mudou de ideia. Agora queria ser Irmã de São José, não mais irmã franciscana.
Tendo alta do tratamento da vista, Clara acompanhou Irmã Zoê a Taubaté onde ficou até preparar o enxoval e entrar no Noviciado em Itu. Clara teve total apoio da família para sua decisão. Preparada e decidida, entrou no Noviciado a 31 de outubro de 1945. Recebeu o hábito a 06 de agosto de 1946 e o nome de Irmã Egídia que conservou vida afora. Pronunciou os primeiros votos a 02 de fevereiro de 1949 e os votos perpétuos a 11 de fevereiro de 1953.
Irmã Egídia escolheu como missão na Congregação, servir as Irmãs e quem mais fosse, nos trabalhos domésticos. Após a Profissão, ficou alguns anos em Itu, no Cenáculo, Casa de Repouso, naquele tempo. Em 1955 foi transferida para Franca, onde plantou raízes por 62 anos, fez muitas amizades bem duradouras. Tantas pessoas que lhe pediam, eram lembradas na sua oração.
Em Franca, com muito amor a Jesus, foi presença junto às alunas do Colégio N. S. de Lourdes, nos recreios e no refeitório. Também ia com as alunas dar Catequese numa Comunidade de bairro. Fechado o Colégio, no início dos anos 1970, Irmã Egídia continuou ativa no serviço com as crianças carentes atendidas pelo Centro Promocional Nossa Senhora de Lourdes (CEPROL). Era presença querida. Muito amiga das crianças, brincava com elas, jogava futebol, dava bons conselhos.
Ah! O Futebol! Irmã Egídia e a prima Irmã Neide (ISJ), tinham paixão por esse esporte. Não perdiam jogo do time preferido, a Associação Atlética Francana. Muitas vezes lá estavam elas, Irmã Egídia e Neide no estádio, vibrando com a torcida. Irmã Neide inclusive, era até juíza de futebol. Treinava time dos meninos do CEPROL e iam juntas assistir à competição no estádio.
Irmã Egídia era muito devota de São José. Tinha palavras tipo “mantras” que repetia com frequência, como: “Combati o bom combate” (2 Tm 4,7). Não conseguindo mais memorizar nomes, chamava todas as pessoas de “Lulu”. Adorava cantar seu repertório: Noites traiçoeiras, N. Sra. me dê a mão, Entre coros angélicos, Ó Maria, tu vais ao baile... Dançar, se divertir nas Festas Juninas, etc. era tudo de bom. Hospitaleira e acolhedora, a ligação com a família era vice-versa! Os familiares marcavam alegre presença nas comemorações de Bodas, de Centenário de Irmã Egídia! Apreciava café, mas o café fraco e bem doce que coava em Franca.
O ano de 2018 chegou e com ele os 96 anos de Irmã Egídia. Idade avançada, no dizer dela. Continuar na comunidade de Franca e dar presença no CEPROL não estava fácil. Irmã Egídia concordou na transferência e ficou bem feliz na Casa de Repouso São José, no Taboão da Serra, SP de onde saiu para a Comunidade de Cuidado São José, na capital. Viveu sempre alegre e ... vaidosa! Até bem recente, queria os cabelos pintados e um enfeitinho na cabeça... Chegou a pedir brincos, a faceira! Completou em março 102 anos e em fevereiro último, 75 anos de Profissão Religiosa.
Aos poucos se tornou dependente, mas não perdeu a jovialidade! No dia 21 de novembro, Nossa Senhora da Apresentação veio buscar Irmã Egídia para alegrias eternas: na Corte Celeste, “entre coros angélicos”, com os/as santos/as e familiares já bem-aventurados, “canta para sempre as misericórdias do Senhor”! (Sl 89,1).
Descansa em paz e feliz, querida Irmã Egídia!