Cristiana do Coração de Maria

Província da Congregação das Irmãs de São José de Chambéry no Brasil

Núcleo SSma. Trindade        

Irmã Cristiana do Coração de Maria

(Eunice José)

* 23/07/1922   + 26/10/2023 

"Quando eu me sinto fraca, é então que sou forte". (2Cor 12, 10)

O casal Abrhaão Lissa Hanna e Gerônima Sofia José vivia em Ribeirão Corrente, pequena localidade, ao norte de SP, a 15 minutos de Franca. O Sr. Abrahão Lissa Hanna era sírio e se naturalizou brasileiro trocando o nome de para Abraão José. O Sr. Abrahão e D. Gerônima tiveram sete filhos: cinco mulheres e dois homens. Entre as mulheres, conta-se a menina que na pia batismal recebeu o nome de Eunice José. Eunice nasceu a 23 de julho de 1922 e sempre apreciou fazer parte de uma família numerosa e muito unida. Desde jovem, Eunice gostava muito das coisas de Deus e mostrava esse amor ajudando as pessoas.

Havia na vila, uma senhora, cujo olho direito tinha sido destruído por uma ferida, ela andava com um lenço na cabeça para ocultá-lo. Eunice, com uma prima iam para sua pobre casinha para fazer curativo, preparar refeição, limpar a casa e fazer-lhe companhia. Levavam arroz, feijão, carne... Uma vez por mês, ia um padre a Ribeirão Corrente para celebrar missa. Ele as alertava para terem cuidado porque a ferida era maligna (CA). Era pra tomar mais cuidado ainda com a refeição, porque a senhora servia para as duas, a mesma comida, sem que os pais soubessem. Ali perto moravam moças com lepra a quem também lhe levavam alimentos.

Às vezes, Eunice ia à Santa Casa de Franca onde trabalhavam as Irmãzinhas da Imaculada Conceição.  E ficava observando quando faziam curativos... Assim foi crescendo na moça o desejo de ser como essas Irmãs. A prima tinha o mesmo sonho, mas não chegou a realizá-lo porque veio a falecer.

Nessas idas e vindas, o tempo foi passando. No dia 27 de janeiro de 1947, contra a vontade dos pais, Eunice correu atrás de seu sonho: abraçar a Vida Religiosa. Sem conhecimento da família, foi para o Noviciado das Irmãs de São José em Itu, SP.  Dá prá imaginar o desaponto do pai que se preparava para ser padre da Igreja Ortodoxa?! Acrescendo que saindo de casa para a VR, a filha não poderia mais voltar para a família?!  Por tudo, era preciso ir buscar Eunice no convento. Mas o pai foi desaconselhado pelo filho, alegando que Eunice não se acostumaria longe da família. No entanto, 15 dias depois, o irmão é que decidiu ir buscar a mana teimosa. Não imaginavam quanto Eunice sofria com a separação. Chorava todos os dias. Mas como resistir ao apelo que vinha do fundo do coração?

E foi confiando esse apelo forte ao irmão, que ele entendeu e voltou pra casa sozinho. Pouco depois escreveu uma carta à irmã confessando que tinha sondado seu coração e constatado que realmente era um chamado de Deus. Que ela continuasse, ele tentaria convencer os pais. E se algum dia desistisse dessa vocação, que voltasse sem receio para casa que não seria criticada. Pois que poderia se santificar em qualquer lugar, como São Sebastião na guerra e Santa Teresinha numa clausura.

Assim, tendo entrado para o Noviciado no dia 28 de janeiro de 1947, Eunice recebeu o hábito a 03 de agosto com o nome de Irmã Cristiana do Coração de Maria. Fez seus primeiros votos a 28 de julho de 1949 e percorridas com fervor as etapas da formação, professou definitivamente no dia 11 de fevereiro de 1953. Ao longo de sua vida, Irmã Cristiana do Coração de Maria foi sempre fervorosa, piedosa, acolhedora, serviçal e prestativa para com todos/as.

Em 1949, Irmã Cristiana iniciou na Santa Casa de Campinas, o Curso de Enfermagem na Escola Madre Maria Teodora, que era agregada à PUC. Terminado o curso, em 1952, foi trabalhar no Centro Cirúrgico da mesma Santa Casa, assumindo também a responsabilidade do cuidado da saúde das Irmãs e dos Padres da Região, inclusive cuidando de Monsenhor Salim e de Dom Paulo de Tarso, bispo diocesano de Campinas. Mais tarde, Irmã Cristiana buscou mais qualificação profissional, fazendo Administração Hospitalar em 1975 e Licenciatura de Enfermagem em 1976.

Transferida em 1959 para a Santa Casa de São Paulo, para atender no Centro cirúrgico. Em 1961 foi para o Jaçanã, trabalhar no Hospital de Tuberculose São Luís, de onde voltou para Santa Casa, com missão no Pavilhão Fernandinho, como responsável e supervisora do Centro Cirúrgico.

Em 1971, na Santa Casa em Taubaté, assumiu a responsabilidade de todo o serviço de Enfermagem.  Ficava impressionada com o elevado número de traumatismo craniano, que chegava com acidentados na rodovia Dutra. Felizmente, o neurocirurgião que atendia os traumatizados era muito responsável. Mas, coisas da vida: o neurocirurgião foi despedido da Santa Casa, e Irmã Cristiana devia assinar um papel denunciando seus erros. Evidente que se recusou, embora sabendo que seria demitida. Como atestar que não era bom médico sendo testemunha de seu eficiente trabalho?! ... Foi muito sofrimento.   

Irmã Cristiana dedicou-se também na Escola de Enfermagem São José como professora e responsável pelos estágios dos/as alunos/as. As Irmãs amavam muito essa Escola porque capacitava muitas pessoas bem responsáveis no cuidado dos doentes. E Irmã Cristiana ainda conseguia dedicar tempo ao Centro Social da Paróquia Coração de Maria.

Ser enfermeira foi de fato a vocação e vida de Irmã Cristiana. Sentia-se feliz na missão de aliviar o sofrimento das pessoas doentes e em capacitar profissionais para essa área. Estava sempre disponível para ajudar as Irmãs e os pobres e a quantas pessoas pudesse estender a mão! Escolheria de novo, ser Irmã de São José, servindo ao “querido próximo”, na mesma profissão.

Irmã Cristiana passou os últimos anos de sua vida, na Casa de Repouso / de Cuidado São José. Celebrou com alegria seu centenário em 2022.  Muito debilitada fisicamente, partiu ao encontro do Senhor que tão bem serviu presente nas pessoas necessitadas.

Querida Irmã Cristiana,

na plenitude da vida junto ao Senhor,

intercede por tantas vidas necessitadas de graça e proteção!