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Pós-Pandemia e o Novo Normal Com Foco em Questões de Justiça e Paz

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No dia 29 de agosto de 2020 o grupo de Justiça, Paz e integridade da Criação da Província das Irmãs de São José de Chambéry no Brasil (JPIC/Brasil), promoveu uma live transmitida via Facebook, com o objetivo de contribuir na formação e fortalecimento das Irmãs e dos Leigos e leigas, colaboradores e colaboradoras. Frei  Gilmar Zampieri, capuchinho, que reside em Porto Alegre, aceitou  o convite para compartilhar algumas reflexões sobre o atual momento em que estamos vivenciando, no Brasil e no mundo. Pós- Pandemia e o “novo normal” com foco em questões de Justiça e paz, foi o tema central da discussão.  Em sua abordagem Frei Gilmar trouxe presente elementos que ele apresenta como um decálogo das lições da Pandemia:

 

 

 

DEZ LIÇÕES DA PANDEMIA

 

 

 

Parece que outro educador está emergindo com credenciais para educar as novas gerações e reeducar as que já se achavam formadas. O que o vírus tem a ensinar para os que querem aprender? O que ele já ensinou e que ensinamentos podem ser vislumbrados para depois dessa crise?

 

Eu arrisco um decálogo:

 

 

 

1.               Sociedade de risco: Nesses tempos, a segurança, esse bem raro e valioso, ninguém a tem em mãos. Nem mesmo os mais poderosos homens do planeta. O risco é um estado constante e impalpável de tensão. O risco anda de mãos dadas com o medo e formam uma dupla de desestabilização e crises constantes. O vírus, que agora circula pelo mundo, é uma espécie de manifestação, sem máscaras, do espírito do nosso tempo. O tempo do risco e do medo. Não se iludam pensando que será possível voltar a um tempo de normalidade. O novo normal será, de agora em diante, de seminormalidade em que teremos que nos acostumar a viver e morrer diferentemente. Por ora a percepção do risco e do medo está concentrada no vírus, mas os outros riscos não deixarão de existir, somente perderam manchetes como é o caso do risco maior das mudanças climáticas. Parece que, agora, como dizia Heidegger, “já só um Deus nos pode ainda salvar”.

 

 

 

2.           Estado x Mercado: Onde o Estado é forte e bem conduzido, o risco e os danos humanos e materiais serão menores, sobretudo para os mais vulneráveis. Nos lugares em que o Estado é frágil e mal conduzido pelos seus governantes, as vítimas tendem a ser em maior número. Isso não é ideológico, é fato observável. Contudo, a lição que deveríamos aprender, finalmente, é de que o mínimo de desigualdades e o máximo de proteção social, com saúde e educação universalizados, é o que seria melhor para todos.

 

 

 

 

 

3.               Em quem depositar confiança? Uma das questões que aparece como urgente e como lição ofertada por este que não ouso dizer o nome, é a da confiança. Parece fora de dúvida que confiar em Deus continua sendo essencial mesmo que se chegue ao limite de dizer que sem religião é possível viver, pois por muito tempo as igrejas ficarão fechadas e ninguém morrerá por conta disso. Igrejas vazias, contudo, não significa viver sem religião, fé, espiritualidade e esperança. A religião, a fé, espiritualidade e esperança continuarão sendo essenciais. O coração e a alma são seu lugar de culto e esse lugar não tem porta a ser trancada. Viver é necessário, mas não basta apenas viver, é preciso um sentido para viver e esse sentido vem da fé, espiritualidade e do que podemos esperar.

 

 

 

4.               Ensaio do que virá: O vírus, tem muito a ensinar. A história tenderá a ser lembrada como antes e depois dessa crise sanitária, social e econômica de extensão, ainda, incerta. Estou pensando, aqui, na emergência climática. Ainda estamos no começo da pandemia e seria temerário fazer projeções, mas, não é fora de propósito imaginar que as mudanças climáticas (aquecimento global, eventos extremos como secas, incêndios, tufões, maremotos etc.) e as catástrofes que dela virão, talvez, sejam ainda mais dramáticas e, quem sabe, esse vírus, que não ouso dizer seu nome, pode estar nos preparando, psíquica e emocionalmente, para termos energia suficiente para enfrentá-las.

 

5.               O Descanso da natureza e a vida dos animais: Um quinto ensinamento do vírus, é de que se a humanidade diminuir a violenta agressão à natureza, esta se recuperará rapidamente. Em algumas cidades, tanto da China quanto da Europa e, certamente, em outros lugares do mundo, a poluição e os gases de efeito estufa diminuíram drasticamente em menos de vinte dias de paralisação da atividade humana por conta do vírus. O que seria do planeta terra sem o humano? Essa é uma pergunta hipotética e radical, mas dá o que pensar. O que seria? Certamente, perderia a nobreza do seu filho mais ilustre. O humano é a terra que anda, sente e pensa. Sem a humanidade a terra perderia a consciência e a espiritualidade. O mundo humano parou por dias, mas para salvar a si mesmo.

 

 

 

6.               O corpóreo e o virtual: A internet nos colocou a todos em rede de relações e comunicação quase infinitas. Antes da pandemia o lamento era que o celular e o virtual era causa de afastamento dentro da mesma casa e isso interpretávamos como sendo ruim. Agora, o que há de melhor do que nos afastar fisicamente e mantermos relações virtuais? Louvado seja o celular que nos ajuda atravessarmos os longos dias de isolamento. Já imaginou uma casa cheia de gente sem ter o que fazer e sem internet? Há um paradoxo aí que dá o que pensar O corpo, agora, se tornou um vilão e um perigo, mas, quando essa pandemia passar, ele voltará a ser o que temos de mais sagrado e que merecerá todo cuidado

 

 

 

7.               Nosso modo de ser e estar no mundo: Nosso modo de ser no mundo tem- se pautado pela capacidade de consumir. Somos o que consumimos. Por isso, o desespero de pensar uma vida no depois da crise, caso haja uma brutal recessão. O ter e consumir são, das espécies de vírus, as mais letais, sobretudo para a natureza e para os animais. E, há muito tempo, escolhemos ser consumidores. Somos um ser que consome. É possível ser criativamente, inventivo contemplativo, meditativo, vivendo com o mínimo necessário.

 

 

 

8.           Mudança de hábitos: Sobriedade feliz: Muitas coisas voltarão à rotina depois que o tsunami passar. E como era boa a nossa rotina antes do vírus, mesmo com seus problemas. Quem não gostaria de tê-la de volta? Agora é que nos damos conta de quão boa era a liberdade de ir e vir com medo de “apenas” ser assaltado. Muitas coisas voltarão à rotina, mas muitas, nunca mais. Já não dará para viver sem um pouco de obsessão pela limpeza, sobretudo das mãos. Vai demorar algum tempo para ver e, sobretudo, tocar o outro sem medo. Contudo, a lição que o isolamento social pode nos oferecer são os bons hábitos que adquirimos nesse tempo. Penso, na paciência. Quem sobreviver ao isolamento terá aprendido que é preciso ter paciência...

 

 

 

9.               Um Novo Ethos para um novo tempo: O sistema-mundo, que nos acostumamos a viver e reproduzir, não poderá prevalecer depois da pandemia. Ele estava baseado na concorrência, no lucro, na exclusão e na lógica do mercado. Ou optamos por uma vida mais modesta, humilde, que alie e sintetize o que há de melhor nas experiências de planejamento, precaução, cuidado e responsabilidade ou o futuro não nos sorrirá. Ou daremos mais valor ao comunitário, associativo, participativo e socializante, ou não terremos paz e futuro. O que o vírus pode nos ensinar de definitivo é que somos um corpo em contato com outro corpo formando o corpo humano e se um adoece e passa mal, todos somos ou deveríamos nos sentir afetados. De agora em diante teremos que enfrentar uma realidade nunca imaginada, que é não poder saber qual a circunferência do próprio corpo.

 

 

 

10.            O que não mata fortalece: É de Nietzsche a frase “o que não mata, fortalece”. É preciso ter esperança que sairemos mais fortes dessa pandemia. Olhando desde a perspectiva histórica, a esperança não se retira deixando somente o medo como alternativa. A humanidade já enfrentou catástrofes, pestes que dizimaram a metade da população em alguns países, guerras terríveis e situações de fome e morte por todos os lados. E venceu! Mas, isso não é automático. É preciso querer aprender tanto com o passado quanto com o que está acontecendo para se fortalecer para o que virá. Só há um caminho, ou nos salvamos todos ou nos perderemos a todos. Num mesmo barco nós navegamos e a um mesmo fim nos há de levar. Ou todos juntos sobrevivemos ou juntos vamos nos afogar. Se continuarmos desprezando a ciência, os fatos, o bom senso e a razão, então, perderemos mais uma oportunidade e a pandemia e o sacrifício que ela impôs terá sido em vão.

 

 

 

Veja o texto na Integra no bolg

 

 https://www.gilmarzampieri.com.br/post/dez-li%C3%A7%C3%B5es-da-pandemia

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